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O Pai como figura de autoridade

Foto do escritor: Rita RibeiroRita Ribeiro

As modificações sociais e culturais do último século, sobretudo a emancipação da mulher, levaram a que os homens começassem a participar mais frequentemente nas tarefas domésticas, assim como, nos cuidados aos filhos, que passaram a ser mais divididos entre o casal. Em Portugal especificamente, depois da revolução de 1974, em que houve uma abertura relativamente à liberdade individual, verificamos uma grande modificação nas relações familiares, sobretudo no papel do pai como figura de autoridade.

Se antigamente o pai “ditava a lei” e era muito respeitado pelos filhos, hoje a realidade é bem diferente. As relações pai- filhos são de maior proximidade, chegando mesmo a existir, em muitos casos, relações que se transformam em relações de igualdade. Vêem-se frequentemente situações em que os filhos determinam, quase tiranicamente, os comportamentos que desejam que o pai tenha, sem que estes tenham grande capacidade de reacção ou de argumentação face à imposição do filho, ou seja, sem que tenham a capacidade de colocar limites firmes.

Por outro lado, verifica-se que as situações mais graves psicopatologicamente são as que, por algum motivo específico, a presença do pai é pouco significativa. Penso que isto ocorre não só por dificuldades da própria mãe, em facilitar e reforçar a relação do bebé/ criança com o pai, mantendo frequentemente relações de carácter simbiótico com a criança, mas também por dificuldades do próprio pai em impulsionar a triangulação da relação.

Parece que o número crescente de crianças com ausência grave de limites, possíveis futuros adolescentes com tendência ao “acting out”, se deve essencialmente a esta demissão / desistência, quase total, do pai em assumir o seu papel como figura de autoridade; à sua ausência no sentido psicológico. Convém realçar que falo em autoridade e não em autoritarismo, que na verdade são conceitos diferentes, já que no autoritarismo, não há possibilidade de diálogo, apenas imposição. Dado que as crianças são capazes de etender um “não” quando lhes explicamos o porquê, é URGENTE que o pai possa perceber como é essencial oferecer-se como figura de autoridade aos filhos, para que estes possam desenvolver-se bem emocionalmente.


“Ser pai” é acima de tudo educar e não ser o amigo que está sempre de acordo.


Publicado na revista do Jornal Independente em Setembro de 2005.

 
 
 

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